Aeroporto 4 de Fevereiro em ‘estado de sítio’ para impedir fuga de membros da elite angolana


Assinalada restrição de movimentos na área de jactos privados e helicópteros, barricada com cones e fitas amarelas. “Impedir fugas é o objectivo”, assegura ao Correio Angolense uma fonte, acrescentando significativamente: “É por aí que o Augusto Tomás estava a preparar a fuga. E é, também, por esta via que saíam altas somas em divisas.”
A ala destinada à aviação executiva no aeroporto internacional 4 de Fevereiro, em Luanda, tem-se apresentado, ultimamente, com uma imagem que impressiona quem aí desembarca: a área está totalmente vedada com cones e fitas adesivas amarelas que servem geralmente para delimitar uma zona que seja objecto de acesso restringido. Pouco comum, a situação está a suscitar interrogações diversas.
“Acabo de aterrar no aeroporto 4 de Fevereiro e, de facto, achei estranho a área dos jactos privados e helicópteros estar completamente vedada com fitas amarelas, barricadas e cones “, confirmou ao Correio Angolense, sob anonimato, um passageiro recém-chegado ao país nesta segunda-feira, 24.

Outro passageiro garantiu ter visto, na mesma área do aeroporto, “jactos privados com aquelas tranças amarelas que a polícia-trânsito põe geralmente nos carros que estejam mal-estacionados”.
Entretanto, fontes com conhecimento apropriado do assunto especificaram que se tratam de medidas complementares determinadas pelas autoridades judiciais, que visam impedir que se ponham a monte, fugindo para o estrangeiro, altas individualidades angolanas que estão neste momento a braços com processos judiciais e sobre as quais foram aplicadas medidas de coacção diversas.
Mais sintomático ainda, rematam tais fontes, é o facto de se verificar, por estes dias, o que será uma “desmobilização concertada” dos pilotos que regra-geral operam estas aeronaves privadas e táxis aéreos. “De súbito, os pilotos que normalmente são chamados para transportar certos dignitários da ‘massa’, nos seus jactos, desligaram os seus telemóveis”, disseram ao Correio Angolense.
“Impedir fugas é o objectivo” – precisou uma das fontes, acrescentando muito significativamente: “É por aí que o Augusto Tomás estava a preparar a fuga e é, também, por esta via onde saíam altas somas em divisas.”
Para estas fontes, não é por acaso que as autoridades judiciais já não quiseram dar nem mais um fim-de-semana de liberdade ao antigo ministro dos Transportes. Temendo-se pela sua fuga, na última sexta-feira, 21, o Ministério Público colocou-o sob prisão preventiva na cadeia de São Paulo em Luanda.
Está constatado, com efeito, que a área do aeroporto 4 de Fevereiro destinada à aviação executiva tem sido bastante permeável a entradas e saídas do país de membros da elite angolana, que se movimentam praticamente sem o controlo das autoridades migratórias. O enriquecimento permitiu que muitas destas figuras adquirissem jactos executivos  – os que não compraram, simplesmente fazem recurso ao aluguer – com os quais viajam facilmente para o estrangeiro sem que necessitem, na sua maioria, de recorrer a voos de carreiras das companhias aéreas.
A despeito da crise económica e financeira no país, tornou-se comum observar altas individualidades angolanas a meterem-se em jactinhos privados para assistir a grandes jogos de futebol em Portugal. O Brasil é outra latitude geralmente escolhida como destino dos dignitários angolanos para fins diversos.
Já no ano passado, conforme constatara o Correio Angolense, a disputa de um jogo entre o Benfica de Lisboa e o Vitória de Guimarães, em Portugal, levou a um movimento inusitado de aviões a jacto executivos saídos de Angola, que transportaram para Lisboa políticos, oficiais-generais e empresários, entre outros.